Existem três tipos de Transtornos Alimentares (TA) mais diagnosticados na prática clínica: Anorexia Nervosa (AN), Bulimia Nervosa (BN) e o Transtorno da Compulsão Alimentar (TCA). São transtornos psiquiátricos e envolvem múltiplas causas, atingindo todas as raças e classes sociais. A Anorexia Nervosa é considerada uma condição rara, com prevalência estimada em torno de 0,5 a 1 % em mulheres jovens e em 0,1% de homens, sendo que o início da doença, em geral, acontece entre 13 e 25 anos. Sabe-se que dentre todas as doenças psiquiátricas, a anorexia nervosa é a doença que mais mata, por complicações da desnutrição ou suicídio.
Na ANOREXIA NERVOSA, um dos primeiros sintomas que aparece na maioria dos casos é uma insatisfação com o corpo, expressa de várias maneiras: seja perguntando se está gordo, comprando revistas de dietas, passando várias horas na academia, se olhando muito no espelho, sentindo vergonha do corpo, se pesando várias vezes ao dia, entre outros comportamentos. O foco passa a ser o corpo e o peso. Em algumas vezes, a pessoa evita contatos sociais que tenha que se expor pela vergonha, como praia e piscina. O curioso é que a pessoa pode estar magra e bem, mas ela se sente gorda. é o que chamamos de DISTORçãO DA IMAGEM CORPORAL. Ao se olhar no espelho, a pessoa realmente se vê gorda ou sente que a barriga, pernas ou outras partes do corpo estão muito gordas. Essa visão alterada leva à sentimentos de culpa, depressão e fracasso. Existe também uma autoavaliação centrada no peso e forma do corpo, ou seja, a crença que seu único valor está na aparência física, não conseguindo enxergar outros valores pessoais. Sabemos que a construção da imagem corporal se dá por diferentes vias desde a infância. Uma das principais é o aprendizado social, onde nos vemos e percebemos por meio do outro, que atua na função de espelho.
A PARTIR DA DISTORçãO DA IMAGEM CORPORAL, a pessoa quer emagrecer a todo custo e tem pavor de engordar. Sendo assim, começa a deixar de comer certos alimentos que considera “engordativos”, mesmo tendo fome e vontade. Pode chegar a se alimentar apenas uma vez ao dia, podendo até ter medo de beber água. A ideia obsessiva é emagrecer cada vez mais e nega o baixo peso. Somado a isso, pode utilizar métodos para se livrar do que comeu, como: vômitos, laxantes, diuréticos, e remédios que ajudem a emagrecer. Também é comum realizar exercícios em excesso, até em casa, como por exemplo, não parar de andar, fazer abdominais, subir e descer escadas.
Na ANOREXIA NERVOSA, a perda de peso é rápida e percebida por todos. Os sintomas clínicos são muitos, como por exemplo, cansaço, tonturas, pele seca, perda de cabelos.
Já a BULIMIA NERVOSA é uma doença que pode ficar escondida por muitos anos. é muito difícil detectá-la, porque na maioria dos casos não existe um peso significantemente baixo para chamar a atenção, como no caso da anorexia nervosa. Em determinados momentos a pessoa tem episódios em que come muito e rápido (compulsões alimentares). Esses episódios são marcados pela sensação de descontrole e impulsividade extrema. Nos episódios de compulsão alimentar, a pessoa ingere uma grande quantidade de alimentos em curto espaço de tempo, come rápido, muitas vezes sem mastigar até ficar empanturrada ou passando mal. Os episódios acontecem quando se está sozinho ou escondido dos familiares por vergonha. Após a pessoa se sente culpada ou depressiva e realiza métodos para se livrar dos alimentos ingeridos (métodos compensatórios). O método mais comum são os vômitos autoprovocados. Mas também podem fazer uso abusivo de laxantes e diuréticos, exercícios físicos em excesso (p. exemplo 3-4 h na academia/dia) ou a realização de jejuns de 12 a 48 horas. Isso se torna um ciclo vicioso e o número de compulsões e métodos compensatórios vai piorando, se não houver tratamento adequado.
No TRANSTORNO DA COMPULSãO ALIMENTAR (TCA), o indivíduo ingere grandes quantidades de comida em um período curto de tempo (máximo de duas horas) e sente uma falta de controle relacionada ao comer (não consegue parar quando começa a comer). Esse transtorno começou a ser estudado no final da década de 50, quando Albert Stunkard, médico da Pensilvânia, observou que alguns pacientes obesos apresentavam comportamento semelhante aos pacientes bulímicos, ingerindo grandes quantidades de comida em um curto período de tempo. Porém estes pacientes, não apresentavam comportamentos compensatórios para eliminar o que comeram. A partir daí, surgiram vários outros estudos sobre a relação entre obesidade e um padrão doente de alimentação, que bem mais tarde veio a se chamar Transtorno da Compulsão Alimentar (TCA).